Letra e áudio:
A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade um busto de uma deusa maia
Metade um grande rabo de baleia
A novidade era um máximo
Do paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia
Refrão:
Oh, mundo tão desigual
Tudo tão desigual
De um lado esse carnaval
Do outro a fome total
E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma sereia bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado.
[Refrão]
Análise:
A novidade, a meu ver, é nada mais que as drogas, que esteve em seu auge, especialmente no Brasil, nos anos 80, mesma década de criação da música (1986), por isso assim nomeada. Na verdade essa problemática está bem oculta, pois não se ouve em momento algum nada relacionado a ela.
Pois bem. O parágrafo introdutório compara a tal novidade a uma sinuosa sereia, que aparecendo na praia, causou tumulto e confusão. O mesmo aconteceu quando as drogas tomaram impulso diante da sociedade, e o seu consumo exagerado seria esse caos.
O segundo parágrafo enfatiza o impacto causado pela ‘novidade’, e a palavra paradoxo, dar a conhecê-la como algo que foge do senso comum, da mesma forma que o uso de tais entorpecentes era (porque duvido que ainda seja) incomum no meio societário.
O refrão ao meu entender, fala da transformação causada na vida de um indivíduo, ao confrontar o período antecedente ao vício e durante a experimentação e êxtase, e o período procedente, onde o individuo se desilude e percebe que o que ele pensava estar fazendo a seu favor só lhe fez mal, quando é mencionado ‘de um lado esse carnaval, do outro a fome total’
A quarta e quinta estrofes relatam exatamente isso, o momento em que o eu - lírico cai em si, por si próprio ou por ter sido coagido de alguma forma a isso, e vê que na verdade a novidade não era o ‘máximo’ e sim a ‘guerra’, que se refere à luta do viciado contra o vício, desfazendo a boa imagem antes construída da tal novidade, e como em toda a letra, fazendo trocadilhos e comparativos entre coisas abstratas.
Bom pessoas terminei. Por mais que eu tenha conferido a versão do próprio compositor (Gilberto Gil) sobre o que se trata a música, eu tive uma diferente interpretação da dele. Eu acho que música que é música é assim, dá-nos a liberdade de tirar conclusões diversas sobre um mesmo escrito. Espero que tenham gostado (: