Jogar, apostar, instigar, perguntar, oscilar, balançar, arriscar, dramatizar, pirar, marcar, usar, desabafar, prosar, compartilhar, selar, inventar, comprovar, alar, amontoar, interiorizar, acalmar, e , pra finalizar, abandonar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011


Vazio. Tudo vazio, muito vazio.
Os dias passam, o tempo voa, tudo parece se afastar,  o grito está cada vez mais alto e angustiado, uma rouca voz a vagar pelas vielas escuras, inacabadas e silenciosas, sem nada que possa enfim cessar esse turbilhão de reflexões infundadas, na qual a nau navega frustradamente em meio àquele montante de qualquer coisa, de tanta coisa perdida.
O passar do tempo causa calafrios, apreensão em relação a tudo que fica largado, ou o que nem foi percebido, coisas importantes, necessárias e tão poucamente apreciadas.
O lindo refletir da lua nas escuras águas do mar, aquela ave excêntrica voando alto, e dando uma sigela suntuosidade ao céu azul opaco, nada disso consegue influir naquele vazio de fim imprevisível e indestrutível que predomina e domina absolutamente tudo.
As águas levarão adiante essa grande embarcação, por um curso longo e dúbio, deixando para trás todas essas efemeridades, e a viagem seguirá a procura dos reais valores de tudo que cruzar esse caminho de flores amores e recomeços.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Analisando: Flores - Titãs

Olá, voltei depois de um bom tempo, mas vou tentar não me ausentar por tão longos períodos mais, vejo que a grande maioria das pessoas gostam das minhas interpretações, fico bastante grata por isso! Deixando sempre claro que são MINHAS interpretações, por mais que as composições tenham sido realizadas através de outras linhas de pensamento totalmente diferentes. Portanto a sua versão, caro leitor, pode ser oposta à minha, o que não quer dizer que ela esteja errada, afinal para mim todas as ideias sobre um mesmo escrito são válidas, desde que sejam claramente fundamentadas. Escolhi uma música interessantíssima de ser observada, pois conta uma história trágica, onde as flores assumem vários significantes diferentes. Ouça, leia a letra, e logo abaixo veja a minha análise detalhada:

Letra e audio:



Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo


A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem
(bis)

Análise:

Revolta, arrependimento,tentativa de suicídio, morte, culpa . Partirei destes 5 temas para explicar minha acepção à cerca desta canção. A revolta se dá nas duas primeiras estrofes, onde o eu - lírico mostra – se exausto da provável mesmice em que se encontra. O arrependimento por ter destruído as coisas boas (um dos significantes das flores) que o rodeava, e que não serão trazidas de volta. A tentativa de suicídio é bem explícita na quinta e sexta estrofes. A morte é marcada pela descrição do velório do ponto de vista do eu – lírico já morto, vendo flores ao seu redor dentro de um caixão: "Há flores cobrindo o telhado e embaixo do meu travesseiro". Observe que as flores assumiram o seu significado real nesta circunstância.
Um fato interessante é observado, onde logo após ele ter dado a entender que tinha morrido, fala de uma recuperação física, nos seguintes trechos : “O soro tem gosto de lágrimas/ A dor vai fechar esses cortes” , e é justamente onde a culpa entra em ação, pois na concepção do eu – lírico, por mais que as lesões cicatrizem, depois de muito sofrimento, tudo que ele fez de ruim nunca será esquecido, o que explica o trecho final : “As flores de plástico não morrem”. Conclui-se então que as flores de plástico correspondem a culpa que nunca vai deixar de persegui-lo , encontramos justamente aí o último significante das flores.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Analisando: Judas - Raul Seixas

Gente quanto tempo sem postar! estava um tanto sem tempo pro blog e com muitas saudades, mas voltei! Vamos ao que interessa?
Eu não conhecia essa música, foi uma sujestão do meu amigo Rogério. Ela tem uma característica interessante. Quando li aparentemente entendi o que ela diz, e me satisfiz inicialmente. Mas pondo meu ‘olho clínico’ em ação (kkk), vi que ela nos dá uma diferente versão do que a Bíblia nos dá com relação a morte de Cristo. Ouça, leia a letra, e logo abaixo veja a minha análise detalhada:

Letra e áudio:




Parte de um plano secreto
amigo fiel de Jesus
eu fui escolhido por ele
para pregá-lo na cruz
Cristo morreu como um homem
um mártir da salvação
deixando para mim seu amigo
o sinal da traição.

Refrão:
Mais é que lá em cima
lá na beira da piscina,
olhando simples mortais
das alturas fazem escrituras
e não me perguntam se é pouco ou demais (2x)

Se eu não tivesse traído
morreria cercado de luz
e o mundo hoje então não teria
a marca sagrada da cruz
e para provar que me amava
pediu outro gesto de amor
pediu que o traísse com um beijo
que minha boca então marcou.

[Refrão]

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Analisando: A novidade - Paralamas do Sucesso

Recentemente me deparei com essa música numa redação. A proposta era retirar dela o problema social em questão e daí desenvolver meus argumentos sobre o tema. Eu já conhecia a música, porém nunca tinha parado para analisar a letra, mas depois de muito pensar consegui extrair o que, ao meu ponto de vista, a música queria realmente dizer. Ouça, leia a letra, e logo abaixo veja a minha análise detalhada:

Letra e áudio:



A novidade veio dar à praia 
Na qualidade rara de sereia 
Metade um busto de uma deusa maia 
Metade um grande rabo de baleia

A novidade era um máximo 
Do paradoxo estendido na areia 
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia

Refrão:
Oh, mundo tão desigual 
Tudo tão desigual 
De um lado esse carnaval 
Do outro a fome total

E a novidade que seria um sonho 
O milagre risonho da sereia 
Virava um pesadelo tão medonho 
Ali naquela praia, ali na areia

A novidade era a guerra 
Entre o feliz poeta e o esfomeado 
Estraçalhando uma sereia bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado.
[Refrão]

Análise:


A novidade, a meu ver, é nada mais que as drogas, que esteve em seu auge, especialmente no Brasil, nos anos 80, mesma década de criação da música (1986), por isso assim nomeada. Na verdade essa problemática está bem oculta, pois não se ouve em momento algum nada relacionado a ela.
Pois bem. O parágrafo introdutório compara a tal novidade a uma sinuosa sereia, que aparecendo na praia, causou tumulto e confusão. O mesmo aconteceu quando as drogas tomaram impulso diante da sociedade, e o seu consumo exagerado seria esse caos.
O segundo parágrafo enfatiza o impacto causado pela ‘novidade’, e a palavra paradoxo, dar a conhecê-la como algo que foge do senso comum, da mesma forma que o uso de tais entorpecentes era (porque duvido que ainda seja) incomum no meio societário.
O refrão ao meu entender, fala da transformação causada na vida de um indivíduo, ao confrontar o período antecedente ao vício e durante a experimentação e êxtase, e o período procedente, onde o individuo se desilude e percebe que o que ele pensava estar fazendo a seu favor só lhe fez mal, quando é mencionado ‘de um lado esse carnaval, do outro a fome total
A quarta e quinta estrofes relatam exatamente isso, o momento em que o eu - lírico cai em si, por si próprio ou por ter sido coagido de alguma forma a isso, e vê que na verdade a novidade não era o ‘máximo’ e sim a ‘guerra’, que se refere à luta do viciado contra o vício, desfazendo a boa imagem antes construída da tal novidade, e como em toda a letra, fazendo trocadilhos e comparativos entre coisas abstratas.
Bom pessoas terminei. Por mais que eu tenha conferido a versão do próprio compositor (Gilberto Gil) sobre o que se trata a música, eu tive uma diferente interpretação da dele. Eu acho que música que é música é assim, dá-nos a liberdade de tirar conclusões diversas sobre um mesmo escrito.  Espero que tenham gostado (:

sábado, 23 de abril de 2011

Analisando (com muito prazer) : Índios – Renato Russo

Um poema. É assim que eu defino essa e outras composições do Renato. Entre diversas características marcantes de seus escritos estão a extensão da letra, e a suavidade com que ela é declamada, e por mais que ele sempre trocasse alguma estrofe dessa música (kkk’), ela nunca perdeu o encanto! Ouça, leia a letra, e logo abaixo veja a minha análise detalhada:

Letra e áudio:


Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha

Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda

Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer.

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.

Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
E sua maldade, então deixaram Deus tão triste.

Refrão:
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho, entenda!
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim.
E é só você que tem a cura do meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas são felizes.

Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos, obrigado.

Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente.

[Refrão]

Analisando: Fracasso - Pitty

Essa música é bem interessante, pois sua letra é carregada de complexidade, com muitas palavras de uso incomum, e uma ideia central bem focada em comportamentos banais na nossa sociedade. Ouça, leia a letra e, logo abaixo, veja minha análise detalhada:

Letra e áudio




O êxito tem vários pais
Órfão é o seu revés
"Aos que sofrem, por fim o céu"
Abranda a raiva

O que trago sobre os ombros é meu e é só meu
Sustento sem implorar a benção e o pesar
Mais vil é desdenhar do que não se pode ter

Refrão:
Vive tão disperso, olha pros lados demais
Não vê que o futuro é você quem faz
Porque o fracasso lhe subiu a cabeça

Atribui ao outro a culpa por não ter mais
Declara as 'uvas verdes', mas não fica em paz
Porque o fracasso lhe subiu a cabeça

O maestro bem falou
A ofensa é pessoal
Quem aponta o traidor
É quem foi traído

Já sabe o que é cair, ao menos tentou ficar de pé
E, vítima de si, despreza o que nunca vai ter
O mais verde é sempre além do que se pode ter

[Refrão]